terça-feira, 27 de julho de 2010

A aventura de ser adulto no século XXI

Este ensaio tem o objetivo de fazer uma reflexão sobre a aventura de ser adulto no século XXI. Comecemos primeiramente conceituando o que é ser adulto. De acordo com o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa “adulto é a pessoa que terminou sua adolescência, que chegou ao término do período de crescimento, aquele que atingiu maioridade civil”.

Entretanto, não podemos nos prender apenas a esse significado. Pois ser adulto é algo bem mais complexo do que apenas parar de crescer fisicamente e atingir a maioridade civil. Ser adulto é quando a pessoa atinge a maturidade, sendo que para isso não se faz necessário ser maior de idade e sim ter posturas e comportamentos altruístas , ou seja,” amor desinteressado ao próximo; abnegação; filantropia”, e também por sua complexidade, que se expressa nas suas complicadas relações sociais
independentemente do meio onde se está inserido e suas condições.

Agora, iremos conceituar aventura, que também de acordo com o dicionário Aurélio significa “acontecimento imprevisto, surpreendente: romance cheio de aventuras estranhas; empreendimento ousado: gostar de aventuras; acaso, sorte, peripécia”.

Estando claros esses conceitos, podemos dizer que ser adulto no século XXI é a pessoa que age com maturidade diante as surpresas da vida, sejam elas positivas ou negativas. Mas para que isso ocorra é preciso que esse adulto saiba quem ele é realmente. Pois quando se sabe quem somos verdadeiramente, temos maior possibilidade de atuar de forma positiva diante de qualquer situação.

Percebe-se que o homem da atualidade está a cada dia buscando algo que nem ele mesmo sabe definir o que é. Geralmente, diz estar à procura da felicidade, mas quando inquirido do que é felicidade, não sabe dizer. Alguns dizem que ela está no status, no dinheiro, na família, no emprego.

Como dito anteriormente, as pessoas de um modo geral, esquecem que primeiramente é necessário conhecer a si próprio, refletir sobre o próprio eu, seu papel na sociedade para depois buscar as coisas que estão fora de si. Não adianta procurar por algo que está dentro do lado de fora, pois nunca será encontrado por razões óbvias.

Nota-se que a tecnologia avança a passos largos, já é possível carregar um computador no bolso! Não é preciso abrir as portas com as mãos, há sensores de presença que fazem com que as portas abram quando chegamos perto, não é preciso saber o caminho para chegar a qualquer lugar, basta indicar o endereço para o GPS que ele informa as coordenadas do caminho, não é mais preciso perguntar às pessoas. Nem é preciso dinheiro em papel moeda para pagar as contas, é só ter um cartão de crédito. As crianças não brincam mais umas com as outras, elas brincam com máquinas (computadores, play station, jogos virtuais).

Todavia, a relação humana não está acompanhando o avanço tecnológico. Está sim retrocedendo. Cada vez menos há o toque, o olho no olho. As pessoas estão distantes umas das outras e com isso acabam distantes de si mesmas. Há um individualismo que não deixa que elas se aproximem. Umas sempre querendo ser e ter mais do que as outras e esquecem que não há nem melhor e nem pior e sim o diferente. E ainda, não há nem como ter um parâmetro de melhor e nem pior justamente pela diferença de cada um.

Acredito que esse egocentrismo se dá talvez pelo crescimento científico e tecnológico. Não que eu seja contra ao progresso, muito pelo contrário. É notável que com desenvolvimento da ciência o homem teve sua expectativa de vida aumentada, pela descoberta da cura e prevenção de muitas doenças, dentre outros benefícios. Porém acoplado a esse desenvolvimento, há um ponto negativo que é a busca desenfreada por um padrão de beleza ditado pela mídia, o que faz com que as pessoas se submetam às cirurgias plásticas desnecessárias, apenas para ficar dentro dos padrões exigidos e não por uma necessidade própria, individual.

Recentemente, houve uma catástrofe terrível no Haiti. O país foi destruído por um terremoto. Mais de 200 mil pessoas morreram soterradas, 300 mil ficaram feridas e 4 mil foram amputadas. Os cadáveres foram enterrados em valas comuns. Diante a desventura dos sobreviventes, vários países se uniram para realizarem operações de ajuda com envio de pessoal, equipamentos, alimento e dinheiro. É muito nobre esse gesto solidário. Mas a solidariedade deve ser praticada primeiramente dentro de nossas casas para depois se expandir. Certamente, há muitas pessoas necessitadas de saúde, alimento e moradia nesses países que ajudaram o Haiti, porém são ignoradas. Totalmente desrespeitadas.

Por isso, o homem da atualidade é um ser individualista, mesmo quando pratica atos de caridade. Pois não adianta uma atitude grandiosa se as pequenas são inexistentes. Prova disso, é que mesmo o Haiti passando por essa situação desumana, os sobreviventes estimularam saques e formação de gangues armadas, os responsáveis pela distribuição dos donativos estão comercializando o que deveria ser doado e os doadores não ajudam seu próximo, seu vizinho, seu familiar. Como querem ajudar outro país?

Onde estão os valores morais, tais como tolerância, respeito, educação, altruísmo, integridade, liberdade, justiça, veracidade, responsabilidade, compaixão, companheirismo, fraternidade?

Do que adianta tantos avanços na área da ciência se o homem não avança em conhecer-se melhor para praticar atitudes condizentes a esses avanços? Quando se tem ao menos uma noção de quem somos realmente e do que queremos alcançar fica mais fácil controlar certos impulsos, certas atitudes arbitrárias. O auto-conhecimento é de suma importância para que a pessoa viva melhor consigo mesma e com o outro. Consequentemente, o mundo será melhor, pois pressupõe que quanto mais conhecimento a pessoa adquire e desenvolve tecnologias, mais ela deve manifestar a sua preocupação de justiça, de equidade e de interesse para o bem-estar não só individual, mas do coletivo.

Então, ser adulto no século XXI é uma aventura e tanto. Primeiro, porque devemos buscar dentro de nós mesmos a razão, o porquê e o para quê estamos inseridos na sociedade. Segundo, porque mesmo diante de tantas dificuldades, tantas injustiças, devemos refletir e buscar fazer a nossa parte, mesmo sendo pequena, para a melhora de um todo. Não devemos ser descrentes do ser humano. O propósito da vida é a evolução e só seremos seres evoluídos através do convívio em sociedade. Onde poderemos avaliar nossas ações e fazer uma reforma pessoal. Assim, ser humano também é uma aventura. Cada pessoa vive uma aventura diária.

Portanto, para viver no século XXI e alcançar a felicidade é necessário que a pessoa conquiste o amor a si e ao próximo, a humildade, a fé, a esperança, a confiança, a criticidade e o diálogo. Conforme Paulo Freire, o diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada de consciência sobre si mesmo até perceber qual será sua práxis na realidade conflitante para desnudá-la e transformá-la.

Também não podemos esquecer que Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Talvez esta certeza nos leve a encarar o nosso papel. E pode ser que um mergulho para dentro de nós mesmos e uma evolução nas relações humanas nos leve para mais perto da descoberta que buscamos. O homem pode almejar realizações tão grandes quanto aquelas que ele sonhar. Não vamos limitar os nossos sonhos à dominação de nossos semelhantes, ou a produção de carros mais imponentes e possantes, ou a aparelhos eletrônicos mais sofisticados.

Finalmente, a aventura de ser adulto no século XXI se dá na possibilidade de podermos sonhar com algo que nos traga orgulho de sermos parte desta sociedade, que nos harmonize com o todo. E, como afirma Joseph Hart,

“Não podemos admitir que seja a educação das crianças de hoje que possa salvar o mundo da destruição: o que poderá fazê-lo é a educação de adultos. É o adulto quem deve perder a sua mentalidade restrita, seus preconceitos egoísticos, costumes inadequados e hábitos obsoletos. É ao adulto que deve ser dada a oportunidade mais rápida de se refazer o mundo, pela ciência, pela tolerância, pela simpatia humana e pela organização racional.”

Para isso devemos olhar para dentro de nós, e também para o nosso próximo, pois o outro é o espelho que vai nos mostrar a nossa verdadeira imagem.

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